Privilegiado, clube de sheik pode causar saída de brasileiros do Qatar

24.2.11 | Marcadores:
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Em 2 de dezembro de 2010, o Qatar foi escolhido pela Fifa como sede da Copa do Mundo de 2022. Com notório poder financeiro e organizacional, comprovado pelas últimas competições esportivas que sediou, o país é considerado capaz de realizar a competição com sucesso. Porém, a interferência da família real no futebol local tem causado um desequilíbrio esportivo e gerado uma crise que pode culminar com a saída de alguns profissionais brasileiros.

Os clubes do Qatar são, basicamente, sustentados com verbas oficiais do governo e cerca de 70% dos atletas são oriundos de outros países. Mas esse fato nunca representou um problema para o futebol local... até esta temporada. Sensação do campeonato, o Al Lekhwiya lidera a Liga do Qatar em seu primeiro ano depois de sair da Segunda Divisão. O sucesso da equipe é o pivô do descontentamento atual de vários jogadores e treinadores de outros clubes.

Lekhwiya apresenta jogadores estrangeiros como reforços (Foto: Reuters)Dindane (Costa do Marfim), Jasur (Uzbequistão), Kone (Costa do Marfim) e Ouaddou (Marrocos): reforços estrangeiros do Al Lekhwiya no ano passado para disputar a Primeira Divisão do Qatar (Foto: Reuters)
 
O segredo desse fenômeno é que tem irritado os adversários. O clube, que pertence ao Sheik Hamad Bin Khalifa Al Thani, herdeiro do trono do Qatar, tem recebido muitos jogadores naturalizados, o que caracteriza uma preferência na Liga. Os times podem usar até três estrangeiros (mais um asiático) nas partidas.

Dos 25 jogadores do elenco do Lekhwiya, 16 são nascidos em outros países. Dois deles são brasileiros, o zagueiro Luís Carlos e o meia-atacante Netinho, de 19 anos, que surgiu nas categorias de base do Vasco. Netinho, que foi convidado a se naturalizar pelo Qatar, porém, nega que o seu clube receba privilégios e afirma que o futebol do país tem recebido muitos investimentos.

- O Lekhwiya é uma surpresa na competição, mas não temos tratamento diferenciado por ser o time do príncipe. Não acho que os outros clubes tenham razão de reclamar.  Aqui eles dão moral para os jovens, sejam eles do Qatar ou não. Eu mesmo fui convidado para me naturalizar e estou avaliando com carinho essa questão - explicou Netinho.

A população do Qatar tem menos de 1 milhão de habitantes (cerca de 900 mil pessoas), explicação dada sempre que surge a pergunta sobre o grande número de atletas naturalizados. Para o técnico Marcos Paquetá, que trabalhou muitos anos no país e atualmente comanda a seleção da Líbia, há a necessidade de importar jogadores para formar o campeonato e a própria seleção. O time nacional conta com, pelo menos, quatro estrangeiros atualmente: os brasileiros Marcone e Montezine, o uruguaio Soria e o ganês Lawrence.
Por pouco, o atacante Araújo, hoje no Fluminense, não reforçou a seleção do Qatar. Tricampeão pelo Al Gharafa, o jogador recebeu o convite, mas preferiu voltar ao futebol brasileiro. Para ele, o processo não está sendo conduzido de maneira tranquila no país.

- Algumas pessoas acham errado e outras apoiam pela necessidade, gostam de ver o time bem. Eu, particularmente, entendo. Eles querem se mostrar para o mundo, e o futebol é uma porta, o meio mais fácil para isso. O árabe é muito vaidoso e quer mostrar que, além do petróleo e tudo que têm, também têm o esporte - disse Araújo.

Sheik Hamad Bin Khalifa Al Thani do Qatar com Juninho e título do Al Ghrafa (Foto: Divulgação)Sheik Hamad Bin Khalifa Al Thani (último à direita) entrega troféu ao Al Gharafa (Foto: Divulgação)
Os motivos da ascensão do Lekwhyia viraram tabu entre os profissionais que trabalham no futebol do país. O GLOBOESPORTE.COM procurou vários brasileiros, entre treinadores, membros de comissão técnica e jogadores para falar sobre o tema. A maioria pediu para não dar entrevista, com medo da polêmica. Outros concordaram, mas pediram para não terem o nome revelado. O certo é que alguns nomes, como Caio Júnior e Juninho Pernambucano (Al Gharafa), já planejam a saída do Qatar em breve.

Fora do país, Araújo não fugiu do assunto. Segundo o atacante do Fluminense, o desequilíbrio causado pelo "clube do príncipe" é muito ruim para ajudar no desenvolvimento do futebol do Qatar.

araujo treino do fluminense (Foto: Wallace Teixeira/ Photocamera) 
Hoje no Fluminense, Araújo quase se naturalizou
para defender o Qatar (Foto: Photocamera)
 
- Antes de eu voltar para o Brasil, tinha um time que era todo estrangeiro (Al Lekhwiya). O Paulo Autuori, por exemplo, reclamou disso. O normal é só ter três. Por que esses podiam? Porque eram do príncipe. Isso existe muito por lá. Mexem no campeonato como querem, não seguem as regras. Se fosse somente para seleção, tudo bem, mas acabam interferindo nos clubes. Eles querem definir quando cada time vai vencer a competição - reclamou.

Atual campeão com o Al Gharafa, o técnico Caio Junior manifestou recentemente sua intenção de sair do país em maio. Sem revelar o motivo verdadeiro, o treinador preferiu apenas dizer que não concordava com os rumos que o futebol qatari estava tomando.

- A minha primeira temporada aqui foi ótima, mas essa agora está me deixando um pouco chateado com algumas coisas que vêm acontencendo. Então, se a gente não concorda com as decisões, é melhor ir embora - disse Caio, que afirmou que o meia Juninho Pernambucano, jogador mais politizado, também não concorda com as mudanças e pode sair em breve.

Outros profissionais brasileiros, que preferiram não ter seus nomes revelados,  também afirmaram que o campeonato local está sendo prejudicado com as novas medidas tomadas pelos dirigentes. A grande preocupação é que, ao invés de ajudar o futebol do Qatar se desenvolver, em vista da Copa do Mundo, o mercado perca os profissionais mais gabaritados.

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